• SERRA DO PINGANO, GANHA STATUS DE ZONA PROTEGIDA PARA CONSERVAR BIODIVERSIDADE E PROMOVER DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL


    Uma nova zona protegida, batizada Serra do Pingano, será criada para conservar uma cadeia montanhosa de mais de 60 km de extensão, no noroeste de Angola, na província do Uíge. Com 2.838 km², a área abriga ecossistemas variados, relevo íngreme e uma densa rede hidrográfica que integra a bacia do Congo, além de flora e fauna de alto valor científico e cultural, incluindo espécies protegidas pela CITES.
    A Serra do Pingano localiza-se no coração da província do Uíge, integrando corredores ecológicos que conectam as serras de Uíge (noroeste), Vamba (sudeste) e Canacanjungo (sudoeste). Estende-se por mais de 60 km de comprimento e até 4,5 km de largura, com picos que atingem 1.227 metros acima do nível do mar e elevações entre 400 m e 1.300 m. O relevo é marcado por vertentes íngremes, algumas ultrapassando 70°, planaltos estruturados e vales profundos esculpidos pela água. A rede hidrográfica é densa, com cursos de água que convergem para a bacia do Congo, sendo os rios Loge e Luege elementos-chave na paisagem e ecologia local.
    A região abriga ecossistemas de montanha, vales em forma de V, cachoeiras sazonais, bosques de encosta e habitats de pequena escala, que sustentam uma grande diversidade de espécies. A zona protegida abrangerá os municípios de Uíge, Quitexe, Ambuíla e Songo, com margens em Mucaba e Negage, áreas reconhecidas por características ambientais especiais. Inselbergs formações rochosas isoladas em Ambuíla e parcialmente em Quitexe concentram biodiversidade e espécies protegidas pela CITES. Outras áreas de interesse incluem a Serra Masselele, Serra Mucaba e zonas pantanosas nas montanhas de Mucaba, reconhecidas como centros de diversidade relevantes.
    A disposição norte-sul das serras facilita o levantamento de humidade pelos ventos atlânticos, criando microhabitats e influenciando ciclos hidrológicos locais. Entre os serviços ecossistémicos prestados pela Serra do Pingano estão a proteção da qualidade da água da bacia do Congo, regulação de fluxos hídricos, saúde dos solos, preservação de habitats para espécies estratégicas e potencial para o ecoturismo. A conectividade entre serras forma um mosaico de ecossistemas, fortalecendo a resiliência das espécies face às mudanças climáticas.

    As comunidades dos municípios abrangidos dependem dos recursos naturais para alimentação, madeira e práticas agro-silvícolas. A criação da zona protegida exige o envolvimento activo de comunidades, autoridades, ONGs e outros actores, com acordos de uso sustentável.

    Oportunidades de desenvolvimento incluem o ecoturismo, produção de produtos florestais não madeireiros e outras actividades sustentáveis, capazes de gerar empregos e renda. O principal desafio será conciliar a conservação com o desenvolvimento económico e social, assegurando participação efectiva e benefícios equitativos.

    A participação comunitária é fundamental, com consultas desde o planeamento até à gestão, respeitando tradições e direitos territoriais. A governança e o monitoramento exigem planos de manejo, fiscalização, acordos de uso sustentável e mecanismos de proteção às comunidades.

    O desenvolvimento de infraestruturas para turismo responsável, trilhas interpretativas, educação ambiental e apoio às comunidades locais são prioridades. A expansão da área protegida poderá ser avaliada cientificamente para incluir a Serra Masselele, Serra Mucaba e áreas pantanosas, ampliando a cobertura sem conflitos de uso.
    A Serra do Pingano desponta como pilar de conservação regional, conectando serras, rios e ecossistemas diversos, ao mesmo tempo em que oferece oportunidades de desenvolvimento sustentável para as comunidades da região de Uíge.